Vou pra escola militar… Vai não neguinho, com esse cabelo grande tu não entra. Raspa ele
Vou pra escola militar… Vai não, você com esse seu cabelo colorido, esses brincos, e tudo mais não pode, isso não é jeito de mulher que se da ao respeito.
Vou pra escola militar… Vai não aleijado, de cadeiras de roda não entra.
Vou pra escola militar… Podemos até lhe aceitar, mais tem esse negócio de religião aqui não, até tem, mais a nossa é superior, somos todos a favor do estado laico como diz que tem que ser.
Vamos pra escola militar… Vão não, esse negócio de teatro, música, hip hop, e tudo mais do Mais Educação e nas outras escolas, aquelas de tempo integral onde estamos tirando investimento.
Vamos pra escola militar… Vão não, esse desvio de conduta de gay e a dela de lésbica não é conduta de Adão e Eva.
Pois vamos pras escolas de tempo integral… Vão não, estamos com problemas lá. Lá se forma a Juventude como deve ser, com educação, arte, cultura e humanização.
Nas sociedades democráticas a educação deve ser libertadora. A militarização da educação civil não pode ser a resposta de um governo democrático aos problemas da educação (indisciplina, evasão, violência no ambiente escolar, dentre outros) que são reais, mas para os quais existem outras e melhores soluções. Uma alternativa é investir em políticas públicas que combinem educação de qualidade com democracia e cidadania.
Em Manaus (AM), escolas públicas já foram militarizadas. A mesma iniciativa vem sendo adotada em Goiás.
Militarizar as escolas com educação antidemocrática e autoritária reforça a ideologia reacionária do autoritarismo e o elitismo da ordem vigente. A disciplina e hierarquização, escondidas sob o epíteto de “Ordem Unida” como prega a escola militar, torna as pessoas submissas. É, na verdade, o sacrifício do espírito criativo, a imposição de uma obediência cega e acrítica, o sepultamento de uma educação para a autonomia e para a liberdade. Pior ainda, militarizar a escola é fazer com que setores das camadas populares e médias consolidem uma ideologia autoritária que, geralmente, se volta contra as mesmas e contra os projetos de construção de uma sociedade democrático-popular, com mais distribuição de renda, inclusão social, justiça, democracia e cidadania. É, ainda, retroceder no que conquistamos com a Constituição Federal de 1988, com a LDB 9394/96 e com o Plano Nacional de Educação.
Equivocadamente, eventuais avanços em nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de escolas militarizadas são atribuídos ao sucesso da militarização, quando a experiência e os dados educacionais do ENEM disponibilizados pelo INEP em 2014 demonstram que essa conclusão é frágil e sem sustentação na realidade. No Brasil, são ao todo 59 escolas que possuem a nomenclatura de “Colégio ou Escola Militar”, entre federais, estaduais e privadas. Dessas 59 apenas 6 informaram ter alunos/as com deficiência, sendo que mesmo nesses casos o número de matrícula informada por escola não passa de 03 (três). No que diz respeito à condição socioeconômica das famílias dos/as alunos/as que estudam nessas escolas, a grande maioria delas informam um padrão muito alto ou alto. Percebe-se que em nenhuma escola militar ou militarizada estudam alunos/as com renda baixa ou muito baixa. Outro dado relevante apresentado está relacionado à formação dos/as professores/as: das 59 escolas 44 informaram ter em seus quadros professores/as com a formação legalmente exigida para atuar no ensino médio. Em outras palavras: as escolas militares excluem os jovens com deficiência, os mais pobres, com dificuldade de aprendizagem ou comportamental, ao tempo em que recebem os maiores apoios em recursos humanos e material.
Por outro lado, os dados do INEP para a rede estadual do Piauí também apontam que 31,4 % das escolas da Rede Estadual de Ensino do Piauí ainda atendem com um quadro de professores/as sem a formação legalmente exigida para essa etapa da educação básica. O mesmo documento mostra, ainda, que das 210 escolas da rede estadual que realizaram o ENEM em 2014, 105 atendiam alunos/as com o perfil socioeconômico entre baixo e muito baixo. Outras 85 escolas esse perfil era de médio baixo. Em apenas 20 escolas a classificação ficou entre médio e médio alto. O que nos leva a perceber que alunos/as que frequentam as escolas da rede estadual são exatamente aqueles/as que esperam que o poder público cumpra com seu dever que é o de assegurar uma escola pública gratuita e de qualidade. No entanto, são esses alunos que mais sofrem com a falta de estrutura nas escolas onde se encontram matriculados. A insuficiência de investimento nas escolas da rede estadual se constitui, indiscutivelmente, como um dos principais fatores para o baixo desempenho que muitos alunos/as apresentaram nas provas de proficiência do ENEM. Apesar disso, temos escolas públicas estaduais no Piauí de excelentes resultados e destaque nacional, como a Unidade Escolar Augustinho Brandão, de Cocal dos Alves.
Em vez da ideologia militar e do autoritarismo nas escolas, QUEREMOS que a Secretaria Estadual de Educação cumpra com as Leis dos Planos Nacional e Estadual de Educação. REPUDIAMOS o fundamentalismo e a militarização como resposta para os problemas da educação. QUEREMOS eleições democráticas, gestão participativa, formação permanente para gestores escolares, melhoria das condições de infraestrutura das escolas, políticas que possam garantir melhores condições de trabalho, valorização e garantia de professores/as em sala de aula em todas as escolas. A sociedade hoje clama por escolas de qualidade, mais democráticas e de tempo integral.
Ditadura nunca mais!!!
Democracia e cidadania sempre!!!
Entidades que assinam esse manifesto:
Articulação Nacional das Juventudes dos Povos e Comunidades Tradicionais-ANJPCT/Brasil Associação da Juventude Praticante a Cidadania-AJPC Associação Nacional de Política e Administração escolar-ANPAE Associação Santuário Sagrado Pai João de Aruanda-ASPAJA Campanha Nacional pelo Direito a Educação Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil-CTB Central Única dos Trabalhadores-CUT Centro Acadêmico de Biologia-IFPI Centro Acadêmico de Ciência Política-UFPI Centro Acadêmico de Ciências Contábeis-UESPI Centro Acadêmico de História UESPI Centro Acadêmico de Pedagogia-UFPI Centro de Defesa de Direitos Humanos Nenzinha Machado Centro de Estudos em Educação e Sociedade-CEDES Centro Nacional de Resistência Afro Brasileira-CENARAB Comissão Pastoral da Terra-CPT Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos do Piauí-CEEDH/PI Conselho Estadual dos Direitos da Juventude-CEDJUV Conselho Municipal de Juventude de Teresina-COMJUV Federação das Associações de Moradores e Conselhos Comunitários do Piauí-FAMMC-PI Federação de Trabalhadores e Trabalhadoras em Estabelecimento de Ensino Privado do Nordeste-FETRARNE Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação-FNDC/Piauí Fundação Marica Saraiva Grupo Piauiense de Transexuais e Travestis-GPTrans Instituto da Mulher Negra do Piauí-AYABÀS Instituto Piauiense de Juventude-IPJ Instituto Samara Sena Juventude do Partido dos Trabalhares do Piauí-JPT/PI Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra-MST Movimento Nacional de Direitos Humanos-MNDH Nós Tudinha-Feminismo, Cultura e Direitos Humanos Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo-NUPECAMPO/UFPI Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Cidadania-NEPEGECI/UFPI Núcleo de Estudos e Pesquisas em Juventudes-NEPJUV/UFPI Parnaíba Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas e Gestão da Educação-NUPPEGE/UFPI Núcleo de Estudos, Extensão e Pesquisas Educacionais-NEEPE/UESPI – Clovis Moura Núcleo de Pesquisa e Extensão em Desenvolvimento Territorial do Vale dos Rios Piauí e Itaueira-UFPI Floriano Observatório de Juventudes e Violência na Escola-OBJUVE Pastoral da Juventude do Piauí Rede de Educação no Semiárido Brasileiro-RESAB Sindicato dos Professores e Auxiliares da Administração Escolar do Estado do Piauí-SINPRO/PI Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica Pública do Estado do Piauí-SINTE/PI Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações-SINTTEL Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados do Estado do Piauí-SINDPD/PI Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social no Estado do Piauí-SINTSPREVS/PI Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Confecções de Roupas do Estado do Piauí-SITRACONF União Brasileira de Mulheres-UMB União da Juventude Socialista-UJS União Nacional dos Estudantes-UNE Via Campesina